O novo ano nem sempre começa bem para quem extrapola no consumo de bebida alcoólica durante a festa de réveillon. Os prejuízos desse abuso podem até ser fatais, principalmente no trânsito, mas na maioria das vezes se manifestam apenas sob a forma de sonolência, enxaqueca e sensibilidade à luz nas 12 horas seguintes.
Segundo o clínico geral Claudio Miguel Rufino, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o álcool tem duas fases: primeiro cria um quadro eufórico e, depois, depressivo – a famosa ressaca.
“Nesses dois momentos, há alterações de reflexos, e o grau varia de uma pessoa para outra. É comum ver alguém que acha que dirige melhor quando bebe, mas na verdade o indivíduo fica mais autoconfiante e ousado. Pensa que é super-homem, desrespeita as regras na direção e põe em risco a própria vida e a dos outros”, destaca o médico.
O excesso de taças de champanhe e latas de cerveja também pode trazer outros prejuízos, como intoxicação aguda, com náuseas e vômito, insolação, queimaduras, desidratação e afogamento. Isso porque, bêbada, a pessoa acaba dormindo mais no sol, muitas vezes sem protetor, suando muito, fazendo mais xixi – o álcool tem efeito diurético – e tomando pouca água, além de perder o medo de ir até o fundo do mar ou da piscina, mesmo sem saber nadar.
“O indivíduo vira um ‘peixe’. Também aumentam os acidentes com os filhos, porque os pais descuidam da vigilância e encorajam as crianças a se arriscar na água”, diz Rufino.
E os motivos que levam as pessoas a beber mais no réveillon são vários: comemorar o ano que começa, ficar mais desinibidas, paquerar, esquecer dos problemas.
“Existe uma aura nesta época de que todo mundo precisa estar feliz. E o estômago pode pagar o preço no dia seguinte”, ressalta o clínico geral. De acordo com ele, as bebidas destiladas, como cachaça e vodca, têm um potencial muito maior de embriaguez que as fermentadas – como cerveja e vinho.
Nesse caso, é preciso fazer abstinência nos dias seguintes, ingerir bastante água e comer melhor, incluindo frutas e vegetais nas refeições. Para minimizar os efeitos da bebedeira, o ideal é consumir algo antes ou durante o uso de álcool, para diluir o líquido e acelerar o esvaziamento do estômago. Também é importante alternar os drinques com goles de água, para não desidratar.
Limite saudável
Rufino explica que o uso crônico de álcool é muito mais perigoso, pois pode causar hepatite alcoólica, uma inflamação no fígado capaz de virar cirrose, doença terminal do órgão em que há a formação de vários nódulos.
Rufino explica que o uso crônico de álcool é muito mais perigoso, pois pode causar hepatite alcoólica, uma inflamação no fígado capaz de virar cirrose, doença terminal do órgão em que há a formação de vários nódulos.
“O limite considerado saudável para uma festa são duas taças de champanhe, uma ou duas latinhas de cerveja – desde que a pessoa não dirija – ou uma taça de vinho”, afirma o médico.
Rufino recomenda escolher uma única bebida e apreciá-la. Segundo ele, indivíduos com histórico familiar de alcoolismo devem redobrar os cuidados. A razão está no fato de que o álcool envolve características genéticas comuns entre parentes de primeiro grau.
“De 60% a 70% dos filhos com pai ou mãe alcoólatra acabam virando também. Então, o melhor é não se expor ao risco para não desenvolver uma dependência”, alerta.