quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

GANGUE DE CRACKERS AGIA A PARTIR DE NATAL


  • A Polícia Federal prendeu na manhã de ontem, em cinco estados brasileiros, 22 pessoas acusadas de integrarem uma quadrilha de clonadores de cartões de crédito e de cracker´s que roubam senhas de contas bancárias pela internet. O bando tinha como base operacional a Grande Natal, onde foram presos 15 integrantes (a maioria jovens) e apreendidos três motos e sete carros Os demais foram detidos no RJ, SP, CE e PB. 


    O superintendente da PF do RN, delegado Rômulo Berrêdo, explicou que a investigação teve início no dia 9 de janeiro deste ano, a partir da constatação de que eram registrados quase que diariamente crimes cibernéticos no Estado. Como uma das vítimas dos cracker´s era a Caixa Econômica - uma instituição pública federal - a PF deu início às diligências. 

    A delegada Ohara Fernandes foi a encarregada da investigação. Ela contou que o potiguar George Jacinto Pereira, 26 anos - um velho conhecido da Polícia Civil, com passagem por estelionato - figurou logo como o principal suspeito. O nome dele surgiu na maioria das transações realizadas pela quadrilha. 

    A delegada explicou que a quadrilha, no início, era formada por cracker´s que usavam programas para roubar senhas de correntistas pela internet. O grupo mandava e-mails com vírus para uma lista de vítimas e, depois de obter a senha, transferia o dinheiro dos correntistas para contas de “laranjas”. Depois, outro membro do bando sacava o apurado com o golpe e o rateava entre os participantes. Mas parte da quadrilha se dividiu para a clonagem de cartões, que seria um ramo criminoso mais lucrativo. Esse “braço da quadrilha” foi liderado por George Jacinto, preso na manhã de ontem, em João Pessoa, na Paraíba, e o primeiro grupo pelo potiguar Thiago Ryllen, apontado como líder dos cracker´s, preso em Natal. 

    A PF descobriu que a base de operações da quadrilha era Natal, principalmente a Zona Norte, mas haviam membros morando também em São Gonçalo do Amarante e Parnamirim. O grupo que clonava cartões aliciou funcionários de estabelecimentos comerciais que recebem cartões, como postos de combustíveis, bares e restaurantes, e montou uma rede para obter informações dos cartões das vítimas. Esses dados eram obtidos através de um dispositivo eletrônico do tamanho de um isqueiro e repassado ao bando. O grupo, por fax, enviava os dados a comparsas no Rio de Janeiro e São Paulo onde eram impressos os cartões clonados. 

    Os cartões chegavam ao RN via Correios e eram usados para compras no comércio. Haviam casos, também, de comerciantes coniventes, que lesavam as administradoras de cartões. Eles “simulavam” vendas para receber o dinheiro da administradora e permanecer com a mercadoria. Segundo o delegado de Combate ao Crime Organizado da PF, William Murad, boa parte das vítimas era de estrangeiros, com limites de crédito alto. 

    A PF não estima o montante furtado pelo grupo, mas divulgou que George Jacinto chegou a comprar R$ 70 mil em uma semana com cartões clonados. Ele comprou até um carro no valor de R$ 18 mil com cartão clonado.

    Fraudes na internet não têm fronteiras

    O delegado federal Adalton Martins, da Coordenação de Polícia Fazendária, veio de Brasília para acompanhar a Operação Colossus em Natal. Ele explicou que as fraudes cibernéticas estão disseminadas pelo País e são difíceis de serem detectadas por não terem fronteiras. “Há dois anos foi criada a Unidade de Combate aos Crimes Cibernéticos e de lá para cá fazemos operações desse tipo uma ou duas vezes por mês”, disse.

    As fraudes causam prejuízos milionários. A estimativa da Federação dos Bancos é que em 2006 e 2007 os crimes cibernéticos desviaram cerca de R$ 300 milhões. 

    No Ceará, a Operação Colossus prendeu duas pessoas. Um deles, identificado por agentes da PF como Paulo Henrique da Cunha, foi detido na casa em que mora, na periferia de Fortaleza. Junto ao computador foi encontrado um ursinho de pelúcia usado como caixa-forte. Em seu interior a polícia encontrou R$ 40 mil. Também foi detido Rafael Gomes, acusado de rastrear con-tas e senhas bancárias na inter-net. Os dois foram levados para a sede da PF em Fortaleza.

    Líder do grupo foi preso no mês de fevereiro

    George Jacinto Pereira, 26 anos, apontado como líder da quadrilha presa pela PF, tem passagem por estelionato. Ele foi preso pela Polícia Civil em fevereiro deste ano, em Neópolis, com vários objetos comprados com cartão clonado e cerca de mil cartões de PVC virgens - que podem ser usados para a fabricação de cartões de crédito. A TN publicou matéria sobre a prisão no dia 6 fevereiro deste ano com o título: “Dupla é presa com mil cartões de crédito virgens”.

    George Jacinto, na época, foi preso com todo o material para a fabricação de cartões falsos, centenas de números e nomes de donos de cartões, além de mil cartões virgens. Ele, segundo a polícia, estava fazendo um “derrame de cartões clonados”. 

    No auto de prisão em flagrante, uma das administradoras de cartão de crédito vítima do esquema disse ter “percebido um derrame desde outubro de 2006” e que pode ter sofrido prejuízo de mais de R$ 200 mil. Os principais alvos dele, na época, eram o Carrefour, Nordestão, Hiper Bompreço, Extra e lojas do Natal Shopping. 

    Além dos cartões em branco, a Polícia Civil informou que apreendeu com o acusado cartões já clonados da Caixa, Unibanco, Citbank, Bank Boston, Real, Bradesco, Banco do Brasil, das administradoras Ibi, Credcard e até da empresa Game Station. Os policiais foram até o apartamento usado pelo grupo, em Neópolis, e lá encontraram um notebook e um leitor de cartão magnético. No computador, segundo o delegado da Especializada de Falsificações e Defraudações, Getúlio Torres, haviam programas para a confecção dos cartões falsos. A polícia também descobriu um banco de dados com nomes e números de cartões de cerca de 400 possíveis vítimas que possivelmente seriam lesadas pela quadrilha. Também foram apreendidas listas com nomes de possíveis vítimas. 

    O acusado foi autuado em flagrante com base nos artigos 171, 180 e 10 da Lei 9.296/96, que tratam dos crimes de estelionato, receptação e interceptação de comunicações de informática, respectivamente. Mas apesar do flagrante realizado pela polícia potiguar, George Jacinto acabou solto por ordem judicial dias depois e, agora, foi preso acusado de envolvimento no mesmo tipo de crime. 

    Operação Colossus

    Prender uma quadrilha interestadual, com base na Grande Natal, que atua em duas vertentes: roubo de senhas de contas bancárias pela internet para transferência eletrônica de dinheiro para contas da quadrilha e clonagem de cartões de crédito. A operação foi batizada de Colossus numa referência ao computador usado pelos ingleses na II Guerra Mundial para decifrar os códigos de comunicação da Marinha Alemã. O computador “Colossus” decifrou os códigos do computador “Enigma”. 

    Fonte: Jornal Tribuna do Norte

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