Moradores de municípios litorâneos do Rio Grande do Norte têm testemunhado, ao longo da última década, a intensificação da erosão marinha. Em diversos pontos dos 410 quilômetros de extensão da costa potiguar, o avanço do mar deixou de ser um fato insólito para se tornar uma preocupação cada vez mais recorrente – sobretudo quando há previsão de marés acima de média. No último fim de semana, com o registro de uma das marés mais altas de 2019 até o momento (2,9 metros na preamar), a água salgada invadiu ruas em Galinhos e Guamaré, e atingiu a praia de Camapum, em Macau. A Defesa Civil do Estado foi acionada, e esses três municípios do litoral Norte do RN aguardam instruções das equipes técnicas para definir as intervenções mais adequadas.
Em Galinhos, distante 166 km de Natal, duas ruas foram invadidas pelo mar. De acordo com Saulo Leão, secretário de Turismo de Galinhos, “a estrutura da Praça dos Pescadores corre risco de ser prejudicada” se não forem adotadas medidas para conter a erosão marinha. Duas ruas foram atingidas, e a faixa de areia na orla diminuiu.
Saulo disse que a maré alta do último fim de semana foi “acima do comum”, e como a cidade está – em média – dois metros acima do nível do mar “aconteceu. É um fenômeno anual, temos relatos de que há décadas uma ou duas marés que entram na cidade. Aguardamos a visita da Defesa Civil para buscarmos soluções”.
Gesiel Miranda de Oliveira, coordenador da Defesa Civil Municipal de Galinhos, explicou que “para fazer qualquer tipo de intervenção, é preciso uma orientação técnica para não acentuarmos ainda mais a erosão, ou mesmo transferirmos o problema para outro trecho do litoral”.
Os relatos sobre o avanço do mar na região são antigos, remontam pelo menos quatro décadas, mas somente no ano 2000 é que foram tomadas as primeiras medidas para reduzir a força do avanço do mar com a construção de espigões em Caiçara do Norte. Porém, em 2018 a erosão marinha voltou a rondar Caiçara do Norte – município separado de Galinhos por 25 km de praias. Este, por sua vez, faz divisa com Guamaré, seguido por Macau.
Especialistas em hidrogeologia da Universidade Federal do RN que acompanham a dinâmica costeira no litoral potiguar asseguram que, dependendo da solução adotada, o problema pode ser adiado ou transferido outro local.
“Em tese é uma situação temporária, devido o período das marés acima da média, mas com o aquecimento global e o aumento do nível dos oceanos teremos que aprender a conviver com essa realidade”, disse Marcos de Carvalho, coordenador estadual da Defesa Civil. Ele explicou que Galinhos está inserido “em um sistema ambiental muito frágil, entre um canal e o mar, e a própria posição geográfica deixa o lugar muito suscetível à força das marés. Guamaré se insere no mesmo sistema, enquanto em Macau temos um problema mais pontual na praia de Camapum”.
Carvalho adiantou que equipes da Defesa Civil Estadual devem ir à região ainda esta semana. “Já acionamos a Secretaria Nacional de Defesa Civil (órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Regional), e tão logo os municípios formalizem a situação daremos andamento ao processo que visa a busco por soluções. A UFRN tem dado um grande suporte orientando as intervenções, pois se fizermos qualquer intervenção em Galinhos vai refletir em Guamaré, e mais adiante em Macau. A orientação é não tomar nenhuma medida antes dos estudos”.
O coordenador da Defesa Civil Estadual informou que o avanço do mar no litoral do RN é acompanhado pelas autoridades “há alguma tempo”, e que a situação também atinge outros municípios do litoral Sul. “Toda a costa do Brasil e do Rio Grande do Norte, em graus diferentes, têm sofrido com a erosão costeira marinha – situação tipificada como 'desastre' pelo Cobrade (Classificação e Codificação Brasileira de Desastres)”.
No litoral Sul do RN a Defesa Civil do RN já registrou erosão marinha desde a divisa com a Paraíba na praia de Sagi e Baía Formosa, passando por Barra de Cunhau, Barra de Tabatinga (no município de Nísia Floresta) e Natal – praias de Ponta Negra, dos Artistas, do Meio e do Forte. Para o Norte, além dos casos citados, também foi registrado avanço do mar em Touros.
G1
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