No interior de Santana do Livramento, na região da Fronteira Oeste, quatro parques eólicos deixaram de produzir energia e se converteram em monumentos ao desperdício de cerca de R$ 300 milhões. Imobilizadas há um ano e meio, desde que um temporal botou abaixo oito das 27 torres projetadas justamente para funcionar à base de vento, as usinas não têm previsão de voltar a operar.
Os detalhes da história por trás da desativação dos cata-ventos indicam que equívocos administrativos e impasses legais foram mais determinantes do que o mau tempo para sucatear o projeto.
Os quatro parques eólicos paralisados, chamados Cerro Chato 4, 5, 6 e Cerro dos Trindade, tinham capacidade instalada de 54 megawatts (MW), o suficiente para abastecer cerca de 100 mil casas.
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Em vez de transformar vento em eletricidade, as pás das duas dezenas de geradores que resistiram ao vendaval de dezembro de 2014 permanecem estáticas. Um dos gigantes de metal, fibra e plástico destruídos ainda se encontra espalhado no campo à espera de remoção. Os outros sete já foram recolhidos como sucata de luxo.
A ventania apenas antecipou o fim das atividades nos quatro parques da empresa Eólicas do Sul, que tem a estatal Eletrosul na composição societária e, como resultado, também é um mau exemplo de gestão de recursos públicos. A Eletrosul tem 49% de participação nos projetos, que foram financiados pelo BNDES.
Empresa argentina entrou em recuperação judicial
As unidades já enfrentavam dificuldades para funcionar devido à quebra da companhia fornecedora dos aerogeradores — coração do sistema responsável por converter energia mecânica em elétrica — e única capaz de fazer a manutenção e a operação dos mecanismos vendidos à Eólicas do Sul.
A Wind Power Energia (WPE), nome do poderoso conglomerado argentino Impsa no Brasil, encerrou as atividades no país e entrou em recuperação judicial sob alegação de falta de pagamento por parte da Eletrobras de um empreendimento bilionário construído em Santa Catarina. A Eletrobras, por ironia, é a controladora da Eletrosul — prejudicada pela quebra da Impsa no país.
Possíveis soluções esbarraram em impasses envolvendo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a Eletrobras e a Justiça. Confira, a seguir, os principais capítulos da insólita história de como R$ 300 milhões investidos no Estado foram jogados ao vento.
Capítulo 1O vendaval que levou as torres
Ventos de até 240km/h derrubaram oito torres em parque eólico em Santana do Livramento
Foto: Arte ZH / Agência RBS
Foto: Arte ZH / Agência RBS
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