segunda-feira, 4 de julho de 2016

Temporal que derrubou oito de 27 torres projetadas para funcionar com a força do vento



No interior de Santana do Livramento, na região da Fronteira Oeste, quatro parques eólicos deixaram de produzir energia e se converteram em monumentos ao desperdício de cerca de R$ 300 milhões. Imobilizadas há um ano e meio, desde que um temporal botou abaixo oito das 27 torres projetadas justamente para funcionar à base de vento, as usinas não têm previsão de voltar a operar. 
Os detalhes da história por trás da desativação dos cata-ventos indicam que equívocos administrativos e impasses legais foram mais determinantes do que o mau tempo para sucatear o projeto.
Os quatro parques eólicos paralisados, chamados Cerro Chato 4, 5, 6 e Cerro dos Trindade, tinham capacidade instalada de 54 megawatts (MW), o suficiente para abastecer cerca de 100 mil casas.
Em vez de transformar vento em eletricidade, as pás das duas dezenas de geradores que resistiram ao vendaval de dezembro de 2014 permanecem estáticas. Um dos gigantes de metal, fibra e plástico destruídos ainda se encontra espalhado no campo à espera de remoção. Os outros sete já foram recolhidos como sucata de luxo.
A ventania apenas antecipou o fim das atividades nos quatro parques da empresa Eólicas do Sul, que tem a estatal Eletrosul na composição societária e, como resultado, também é um mau exemplo de gestão de recursos públicos. A Eletrosul tem 49% de participação nos projetos, que foram financiados pelo BNDES.
Empresa argentina entrou em recuperação judicial
As unidades já enfrentavam dificuldades para funcionar devido à quebra da companhia fornecedora dos aerogeradores — coração do sistema responsável por converter energia mecânica em elétrica — e única capaz de fazer a manutenção e a operação dos mecanismos vendidos à Eólicas do Sul.
A Wind Power Energia (WPE), nome do poderoso conglomerado argentino Impsa no Brasil, encerrou as atividades no país e entrou em recuperação judicial sob alegação de falta de pagamento por parte da Eletrobras de um empreendimento bilionário construído em Santa Catarina. A Eletrobras, por ironia, é a controladora da Eletrosul — prejudicada pela quebra da Impsa no país.
Possíveis soluções esbarraram em impasses envolvendo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a Eletrobras e a Justiça. Confira, a seguir, os principais capítulos da insólita história de como R$ 300 milhões investidos no Estado foram jogados ao vento.
Capítulo 1O vendaval que levou as torres
Ventos de até 240km/h derrubaram oito torres em parque eólico em Santana do Livramento
Foto: Arte ZH / Agência RBS